Capítulo VII – A Conversa Final
O dia seguinte despertou. O sol que cobria o céu quando Júlia acordara havia desaparecido do céu. Este encontrava-se coberto de nuvens pretas, que a qualquer momento iriam fazer rebentar a tempestade. Júlia já estava no autocarro, quase a chegar à escola. José ia consigo, sentado no mesmo banco.
- Estás bem? – perguntou ele.
- Mais ou menos.
- A que horas combinas-te falar com ele?
- Depois de terminadas as aulas de hoje.
O dia permaneceu triste. O céu continuava a ameaçar com uma tempestade que ainda não rebentara. Júlia estava mais nervosa à medida que o tempo passava. José sentia-se cada vez mais preocupado com a escolha que ela podia vir a fazer. Certo, é que durante todo o dia Júlia pouco falou. Será um indício da sua escolha? Estará ela a fazer o que Fábio pediu e a afastar-se dos seus amigos? José tinha medo, medo de perder a sua única e grande amiga.
- Bem, chegou a hora. Vou indo. – disse Júlia.
- Eu vou contigo até à praça. Depois quando ele chegar eu deixo-vos a sós.
- Não é preciso. Mas já que encistes faz como quiseres.
Júlia e José dirigiram-se até à praça. O dia continuava escuro, Júlia estava cada vez mais tensa.
Ele estava a chegar. Fábio descia a avenida em direção à praça.
- Podes ir. Ele vem aí.
- Boa sorte Júlia. – disse José, e foi embora.
Júlia afastou-se do centro da praça e entrou no jardim que ficava ali ao lado. Sentou-se numa das mesas de pedra que ali se encontravam até que Fábio chegasse. Logo depois de ela se sentar, ele aproximou-se e por uns momentos ficaram ali a olharem-se nos olhos. O sino da igreja tocava as badaladas, eram três horas da tarde. A tempestade rebentou, a chuva começou a cair e os trovões a iluminar o céu.
- Senta-te. – disse ela.
- Não queres ir para outro lado? Está a começar a chover.
- Não tenciono demorar muito tempo. – disse Júlia. – Tens mesmo a certeza que é isto que queres? Pensa bem, eu nunca te pediria para fazeres tal escolha! São os meus amigos, a minha vida, os meus estudos, pensa em mim antes de falares!
- Eu já pensei.
- E então?
- Ou eu, ou os teus amigos. Assim não dá para continuar.
- Ai não dá? Pois então… tu amas-me?
- Sim, claro que te amo. Tudo o que te faço é por amor.
- Amor? Afastar-me das pessoas de que gosto para estar contigo isso é amor? Ou não será antes obsessão?
- Eu amo-te, acredita em mim.
- Então se me amas, deixa-me ter uma vida! Se me amas, gostas de me ver feliz, de me sentir realizada, fazes qualquer coisa por mim, se me amas só queres o melhor para mim! Mas não, não é isso que acontece!
- Não leves as coisas dessa maneira Júlia!
- Pois então, estamos dependentes da minha resposta? Nada te faz mudar de ideias pois não?
- Não.
Júlia levantou-se, deu uns passos e ficou de costas para Fábio. Ele virou-se, e perguntou:
- Júlia! A resposta?
Ela permaneceu virada de costas para ele por uns momentos. A chuva estava cada vez mais forte, ambos estavam todos encharcados. Um trovão forte acabara de cai ali perto. Tudo estremeceu. Júlia virou-se.
- Desculpa. Ficamos por aqui. A vida chama por mim.
Mal acabou de proferir essas palavras, começou a andar.
- Júlia! – gritou ele. – Se deres mais um passo, nunca mais te dirijas a mim.
Ela tinha parado para escutá-lo. Rodou a cabeça e olhou-o mais uma vez. Voltou a virar a cabeça e caminhou em frente. A vida esperava por ela.
A chuva continuou a cair. Junto com a água que escorria pelo seu rosto, vinham as lágrimas. Ela amava-o mas era melhor assim. Iria sofrer, mas deixar de viver por ele seria um sofrimento ainda maior.
Nessa semana Júlia pouco falou. José respeitou o seu silêncio e não tocou no assunto. Mas ele estava mais feliz, pois desconfiava que estivesse tudo acabado entre Júlia e Fábio.
Na semana seguinte Júlia decidira desabafar com José. Contara-lhe tudo o que acontecera no encontro, e ele escutara-a. Não podia negar, ele sentia-se feliz pela tristeza da amiga. Embora não fosse bem a tristeza dela que o fizesse feliz, mas sim o fim da relação dela com Fábio. Mas tão cedo Júlia não voltaria a confiar em ninguém. Não valia a pena se declarar quando Júlia se encontrava tão frágil. O verão chegou. O ano escolar chegara ao fim.
continua…
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Capítulo I - Memórias de Criança
Capítulo II - O Novo Ciclo
Capítulo III - O Outro
Capítulo IV - O Sentimento
Capítulo V – Coragem
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