sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Sempre Que Te Vejo – Capítulo III – “O Outro”

 

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Capítulo III – O Outro


Demorou, mas finalmente José havia crescido. A coragem já começava a ver-se junto com todas as suas outras qualidades. Crescido, com uma nova imagem José enfrenta os agressores da sua escola sempre que eles se dirigem até si. O que é certo é que cada vez eram menos frequentes as visitas por parte deles. Mas muito mais coisas haviam mudado na vida de José.
No quarto ano do ensino básico, José começava a olhar com outros olhos a vida. Este foi sem dúvida o ano em que começaram a surgir grandes emoções, principalmente no coração de José. A aproximação a Júlia, começou logo no início do ano. Ana ainda estava de férias, e José aproveitou que Júlia não a tinha por perto para se aproximar. Mas nem tudo são boas noticias. Júlia estava apaixonada por um dos rapazes que agrediam José. Era o primeiro grande amor da rapariga. A raiva de José ferveu quando descobriu. Os sentimentos de José, também evoluíram neste tempo em que tanta coisa mudou. O coração voltou a aquecer. Aquele pedaço que sempre partilhara com Júlia voltara a ficar vivo. O ciúme foi outro sentimento descoberto por José. Medo de perder a amiga novamente.


Ana voltou de férias em Outubro. Quando chegou viu-se obrigada a simpatizar com José, pois sabia que júlia voltara a contar com ele como seu baço direito. Ana agora só tinha que aceitar José no grupo. Diana voltara a juntar-se a José e Júlia só depois de regresso de Ana. Ali formou-se agora um grande grupo de quatro pessoas, de colegas, pois amizades ali só tinham duas, a de José e Júlia e a de Ana e Diana.
José começou a saber um pouco mais sobre a vida de Júlia. Quase que nem a reconhecia. A menina doce que ela era, já não existia. Júlia tornara-se uma jovem forte e rígida. Os traços de Júlia evoluíram com o passar do tempo, tornando-se uma pessoa mais adulta, mas ainda muito ingênua. José escutava sempre todos os desabafos, todas as opiniões da amiga, mas o pior era quando ela lhe pedia opiniões e colocava-lhe dúvidas sobre Tiago e José quase que explodia com o rancor, o ódio que sentia por ele, mas controlava-se e tentava sempre fazer com que Júlia o esquecesse, mas era impossível. Ela estava iludida.
O mês de Novembro chegou, e junto com ela o aniversário de Júlia. Mas ninguém imaginaria que este aniversário pudesse fazer tanta diferença na vida de Júlia, mas fez. Uma das prendas que Júlia recebeu foi um telemóvel. Esse telemóvel ditou muito do futuro de Júlia. Desde que o recebera como prenda de aniversário, Júlia passava agora grande parte do tempo a falar com rapazes que nem sequer conhecia. Já que não tinha sorte com Tiago, continuava à procura de outros rapazes para conhecer melhor. Os pequenos romances de Júlia foram muitos, mas nenhum fez Júlia esquecer Tiago. E se não o esqueceu até agora, daqui para a frente só iria ficar pior. Uma nova rival que luta pelo amor de Tiago chegara à escola.
Com toda esta agitação, Diana começava a sentir-se de parte no grupo. Essa fragilidade fez com que José se aproxima-se mais dela, de maneira a saber um pouco mais sobre a relação de Júlia e Ana. Diana sentia que Ana dava mais importância a Júlia do que a ela. E era verdade. O que aconteceu entre José e Júlia, acontecia agora entre Ana e Diana.
O último ano de José, Júlia, Ana e Diana naquela escola chegara. No ano seguinte todos iriam embarcar numa nova aventura, o ensino secundário.
Júlia tornara-se uma das pessoas mais populares daquela escola, e o facto de pertencer ao grupo dos alunos mais velhos que iriam em breve partir daquela escola davam-lhe um certo estatuto, tal como aos seus colegas do nono ano.
Novas rivais, novos amores, novas descobertas. O ano de Júlia e José começou mal. Os conflitos de Júlia por causa de Tiago atingiram uma dimensão nunca antes vista. Tiago tinha agora outra pretendente, o que significava uma nova rival para Júlia. A luta por Tiago chegou ao ponto de Júlia se envolver em agressões com a sua rival. O pior para Júlia foi quando ele se entregou à sua rival, aí Júlia entrou em tal estado de depressão e começou a fechar-se para si própria e a esconder-se do mundo. Só José a compreendia, pois já passara pelo mesmo. Ana passava agora grande parte do tempo com Diana. José sabia que Ana só pretendia andar na ribalta. Quando Júlia começou a seguir os conselhos de José e focar-se nos estudos, Ana começou a trocar Júlia por Diana, e foi aí que o grupo começou a desfragmentar-se. O ano já ia a meio quando Júlia começou a envolver-se com um novo amigo que conhecera nas redes sociais. Pedro, andava na mesma escola que Júlia, mas nunca se haviam falado antes. Júlia só não imaginava que essa pessoa pudesse ser o amor de Ana.
- José eu preciso de ir a um sítio. Para onde vais? – perguntou Júlia.
- Onde vais? Posso saber? – perguntou ele.
- Vou ter com um amigo.
- Eu fico aqui na biblioteca, a fazer o nosso trabalho de ciências.
- Se precisares de alguma coisa diz, que eu depois faço. – disse Júlia.
Júlia saiu da biblioteca e foi encontrar-se com Pedro. José ali ficou sozinho a fazer o trabalho de grupo. Tardes como essa começaram a ser frequentes, sempre que acabavam de almoçar, Júlia ia encontrar-se com Pedro e José ia até à biblioteca, ler um livro, ver o jornal, matar o tempo até à próxima aula.
- Olá José. Então o que fazes aqui sozinho? – perguntou Ana, como se estivesse no gozo com ele.
- Nada de especial. – respondeu-lhe.
- E por onde anda a Júlia?
- Eu acho que a vi passar por nós. – interveio Diana.
- Não vi. Sabes onde ela foi José?
- Encontrar-se com um amigo.
- A sério? Não acredito! E quem é esse amigo?
- Não sei.
- Sabes, sabes. Diz lá. Ela conta-te tudo.
- Já disse que não sei. – respondeu José.
- Como queiras então. Vamos embora Diana.
- Até logo José. – disse Diana, quando Ana já ia longe.
Realmente, José não sabia. Júlia nunca contava essas coisas a ele. Mas agora que Ana o confrontara com isso, ele ficara curioso. Afinal quem seria essa pessoa com que Júlia se encontrava? José fechou o jornal, pousou-o na mesa e saiu da biblioteca e correu em direção ao átrio. Não havia sinal de Júlia.
“Onde andará ela? Talvez nas traseiras da escola?” – pensou José.
Ele não pensou duas vezes. Saiu na porta mais próxima e deslocou-se às traseiras da escola. Quando estava a chegar ao local, começou a ouvir gritos e berros.
“Júlia? Ana? Diana? Não pode ser”. – pensou ele.
Caminhou um pouco mais e avistou Júlia a discutir com Ana. Diana tentava as acalmar.
- Tu és uma traidora! Menina mimada, sem vergonha! – gritava Ana.
- Cala-te, tu não sabes mesmo o que dizes! Só te preocupas com as aparências, em ser vista… - respondia Júlia em voz alta.
- Oh que lindo. Essas palavras são de quem? Do teu amiguinho José?
- Não, não são. São minhas! Agora desaparece, estou farta das tuas cenas.
José continuava ali à escuta. Ouviu-se uma quarta voz.
- Meninas por favor!
- Cala-te Pedro. Não te metas. Ela já está de saída, não é Ana? – disse Júlia.
- Isto não fica assim. Prepara-te. – disse Ana, e saiu dali. Diana correu atrás.
- Desculpa Pedro. Mas não dá para continuarmos. Desculpa.
- Eu compreendo. Foram bons os momentos que passei contigo. Nunca esquecerei.
- Nem eu.
- Então, até um dia. –disse Pedro a Júlia e foi embora.
José ficou ali imóvel. Não sabia o que pensar de tudo aquilo. Seria culpa dele? Dissera ele ago a mais a Ana do que o que devia?
- José? O que fazes aqui? – perguntou Júlia.
- Eu? Nada. – respondeu, atrapalhado.
- Estives-te a ouvir a nossa conversa? Diz a verdade, não mintas.
- Mais ou menos…
- Como assim, mais ou menos?
- Eu vinha à tua procura, e quando cheguei vi-te a discutir com a Ana. Acho que posso ter alguma coisa a ver com isso. Eu disse-lhe que estavas com alguém, mas que não sabia quem.
- Pois, esse alguém é o Pedro. Sabias que ela estava apaixonada por ele?
- O quê? Então por isso é que discutiram?
- Sim, foi basicamente isso. A culpa é dela. Se ela confiasse em mim como eu confiava nela, nunca me envolveria com ninguém de que ela gostasse.
- E tu como estás?
- Triste, sozinha.
- Eu estou aqui.
- Sim eu sei. Vamos para a aula, já está na hora. – disse Ana.
O ano terminou. Ana não chegou a vingar-se de Júlia como prometera, pois sabia que ela havia deixado Pedro. E também deveria imaginar o porque daquilo ter acontecido, pois ela no fundo sabia que deveria ser mais aberta com a amiga, como ela era com ela. Os laços de amizade entre Júlia e Ana não voltaram a entrelaçarem-se.
Júlia e José entraram numa nova escola. Diana e Ana ficaram separadas, mas em escolas diferentes da de Júlia e José. Os contactos começaram a ser cada vez mais escassos, Diana era a única que ainda falava para Júlia e José, até que um dia também deixou de falar para eles.
Uma nova etapa da vida de Júlia e José havia começado. Uma nova escola, novas pessoas, novos amigos foi assim que começou o novo ano escolar de Júlia e José, no ensino secundário. José passava agora muito tempo com Júlia. Nas aulas, nos intervalos, nas tardes livres, eram horas mágicas, recheadas de grandes conversas e aventuras, era como se tivessem recuado no tempo até à sua infância. A amizade voltara a ganhar as raízes necessárias para fazerem florescer os ramos, de novo. Ninguém conseguia decifrar o enigma que envolvia aquela amizade que estava cada vez mais forte.

continua…

 

Leia ou Releia

Capítulo I - Memórias de Criança

Capítulo II - O Novo Ciclo

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