sexta-feira, 3 de agosto de 2012

“O Sacrifício” - Folhas Soltas

 

1.1 O Sacrificio

O Sacrifício

O sol batia-lhe na cara. Ele quase que não conseguia abrir os olhos. O portão fechou-se e ele ficou ali parado com uma sacola ao ombro. Vinte anos depois de ter sido condenado saiu em liberdade. Ele olhou o mundo à sua volta, e começou a andar. A estrada estava cheia de buracos, que ele por vezes precisava de se desviar. Continuou a andar. Saíra da prisão a meio da manhã, e era já quase nove horas da noite e ainda continuava a caminhar. Quando o céu escureceu por completo ele parou junto a um pequeno portão de uma grande mansão. Por uns momentos permaneceu quieto. Depois olhou pela janela da casa que estava aberta e viu duas crianças que brincavam, uma mulher que usufruía do aconchego do seu marido senados no sofá em frente à televisão e uma senhora idosa que se encontrava numa cadeira a tricotar umas peças de vestuário. Esticou a mão até ao portão e empurrou-o. Entrou no jardim e seguiu até à porta da casa. A campainha tocou.

- Eu vou abrir. – disse a senhora idosa.

A porta abriu-se.

- Quem é o senhor? O que deseja? – perguntou ela.

Ele não respondeu. Esticou o braço e abriu a mão com a palma para cima. A mulher recuou, e desapareceu. Uns instantes depois voltou à porta e colocou na mão do homem um pedaço de pão. Ele aceitou-o e saiu.

No dia seguinte ele voltou a aparecer junto àquela casa. Voltou a entrar, tocou na campainha e esperou que lhe abrissem a porta. A senhora voltou a dar-lhe outro pedaço de pão. A história repetiu-se durante seis dias. Ao sétimo dia, quando a senhora ía para abrir a porta a senhora diz-lhe:

- Meu filho, estás perdoado. Entra.

Ele entrou e seguiu a senhora até à sala. Sentaram-se no sofá.

- Porque não me reconheceu no primeiro dia que aqui vim, minha mãe? – perguntou o homem.

- Se eu te reconhecesse no primeiro dia, hoje estarias de novo na prisão.

- Porque diz isso, mãe?

- Apenas o sei. No dia em que foste condenado eu jurei a mim mesma que se fosses inocente irias implorar para voltar. Se realmente fostes persistente ao nunca desistir durante uma semana, é porque realmente eras inocente.

- Minha mãe, agora acredita na minha inocência?

- Agora acredito. O meu juramento cumpriu-se. Agora acredito que não matas-te o teu pai. Provaste a tua inocência da maneira mais simples. Não foram precisos julgamentos, nem penas, nada disso, apenas um gesto.

- Mãe, eu não tenho nada. A minha vida neste momento não faz sentido.

- A verdade faz sempre sentido, meu filho. Por isso vais me dizer quem realmente matou o teu pai. Eu sei que sabes quem foi.

- Sim mãe. Eu sei.

- Então diz-me.

- Não vou dizer. Um dia ades saber.

O homem ficou ali a morar junto com a mãe, e a família do irmão. Uns dias depois, o irmão do homem é encontrado morto em casa. Estava coberto de sangue, e ao seu lado estava uma navalha.

- Meu filho, quem te fez isso? – gritava a senhora junto ao corpo.

Horas depois, a policia chegou junto ao local.

- Minha senhora o assassino foi encontrado. Irá ser julgado amanhã.

“Agora sei quem matou o teu pai.” – pensou a senhora.

Numa cela estava o homem que saíra à uns tempos da prisão.

“ Minha mãe, por mais liberdade que possa ter, nunca irei conseguir construir uma vida. Porém fiz justiça. Hoje serei condenado com razão. O meu irmão matou o pai para ficar com os negócios da família. Eu matei-o para conseguir sobreviver, pois nunca viverei tranquilo sem justiça. Perdoe-me minha mãe, mas muitas vezes à sacríficos a fazer por um bem maior, a senhora iria ser a próxima vítima. “

O recluso acabou de escrever a carta, pousou a caneta e suspirou. Foi o último suspiro. Dias depois fora encontrado morto na sua cela.

 

FIM

COVER

Sem comentários:

Enviar um comentário