quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A Borboleta Amarela – Parte 6

 

- Olá mamã.COVER

- Lucas! Bom dia filhote como estás? Dormiste bem?

- Sim mamã.

- Vai para dentro, a Tarsa está a preparar o pequeno-almoço. Acorda o Mateus.

- Está bem.

Lucas correu para dentro, acordou Mateus e foram ambos se sentarem à mesa. Ana decidiu dar um passeio pela montanha. Precisa de pensar e tirar conclusões da vida.

- Já sei! – gritou ela, correndo até à caravana.

- Tarsa Tarsa! – chamava Ana.

- Senhora, aconteceu alguma coisa?

- Não, mas já sei o que vou fazer. Não é a fugir e a esconder-me que vou poder fazer alguma coisa por mim, pelos meus filhos e por todos. Mesmo que o meu esforço não valha a pena, pelo menos tentei.

- E o que vai fazer?

- Vou voltar a Galatril, procurar o meu marido e o meu irmão. Apoia-los e apoiar o povo, afinal como membro do governo de Galatril esse é o meu dever.

- Sim, mas se partir-mos as crianças não ficarão em segurança.

- Pois eu sei por isso é que queria te pedir um favor. Fica aqui e cuida deles. Eu vou sozinha.

- Mas senhora, é perigoso.

- Não te preocupes. Fazes-me esse favor?

- Não sei…é uma grande responsabilidade.

- Sim eu sei, mas é a única saída. Afinal vou seuir aquilo que me vai no coração.

- Sim está bem. Eu cuido dos meninos.

- Obrigada Tarsa.

- E quando pensa em partir?

- Hoje mesmo.

- Então, boa sorte.

Ana foi para a cabana onde começou a reunir os seus pertences mais importantes e comida para a viagem que não ia ser nada fácil.

Quando tudo estava pronto, ela chamou o filho e o irmão e contou-lhes que iria partir, não dizendo em concreto o motivo, afinal eles são crianças. A despedida foi longa, com lágrimas e abraços até que Ana montou o cavalo e partiu. Decidira ir pela estrada até à aldeia, sabia que corria riscos, mas assim poderia conseguir obter novidades.

Galopou até à base da montanha, e depois fez com que o cavalo aumenta-se a velocidade, e correu ainda mais depressa. A viagem iria ser rápida, afinal não tinha os obstáculos da floresta, nem crianças, era só ela e o cavalo.

Quando começou a anoitecer Ana já se encontrava a pouco mais de cinco quilómetros. O fumo que se via ao longe começava-se a aproximar, tal como o medo de Ana começava a aumentar. Não vira ninguém na estrada, o que era de esperar em tempo de guerra. Estava cada vez mais próxima da aldeia o que a fez pensar no que fazer. Ela sabia que o melhor era entrar de noite na aldeia, não dava tanto nas vistas mas ainda se via luz no céu. Ana decidiu parar e descansar um pouco. Entrou na floresta que rodeava a estrada, mas não se afastou muito pois teria que partir rapidamente. Ela comeu um pedaço de pão, bebeu um pouco de água e preparava-se para partir quando começou a ouvir uns movimentos. Espreitou e viu um enorme exército a seguir na direcção da aldeia. Eram um numero elevado de cavaleiros, atrás uns outros transportavam alguns catacumbas e outros apenas bandeiras, do governo.

Eram aliados de Pedro e Tomás, mas nem isso deixava Ana mais descansada. Deixou passar um tempo e depois seguiu em direcção à aldeia.

A cerca de um quilómetro da aldeia já todo o pinhal estava queimado. Pequenas casas que começavam a aparecer de vez em quando estavam com portas arrombadas e outras destruídas. O horror começava a espalhar-se no rosto de Ana, de vez em quando apareciam corpos no chão, eram cada vez mais quanto mais Ana se aproximava do centro maior era a tragédia que a aldeia ditava.

A aldeia estava deserta, destruída, queimada, até a igreja onde Ana se casara sofreu com a guerra. Ao chegar ao centro, Ana corre na direcção da sua casa. Os pequenos incêndios que ainda estavam activos em algumas casas faziam uma enorme claridade por toda aldeia. A casa estava destruída, os vidros das janelas partidos, as portas arrombadas, o jardim queimado e até haviam buracos nas paredes. Era o caos, nunca tal destruição foi visível aos olhos de Ana. Ela deixou o cavalo junto da porta da sua casa e entrou por entre os escombros. Tudo estava destruído, mesas partidas, cadeiras queimadas, livros espalhados por toda a casa e todas as paredes estava pretas do fogo. Ela subiu a escadaria que ainda resistiu aos ataques, mas todos os quartos estavam também destruídos. Ela continuou a andar e parou junto de uma outra porta. Esta não estava arrombada, estava trancada tal como no dia em que ela abandonou aquela casa.

Colocou a mão junto à maçaneta e abriu a porta. A sala estava intacta, porém cheia de pó e alguns vidros que foram partidos do lado de fora das janelas. O grande piano encontrava-se no lugar que sempre esteve, coberto de pó.

Ana caminhou até junto dele, retirou o pano que cobria as teclas sentou-se num banco e começou a tocar.

A música fê-la pensar naquilo que viveu, nos tempos em que era miúda, no dia do seu casamento mas tudo acabou com uma imagem de tristeza daquela aldeia. De repente começou a ouvir pequenos barulhos, e ao mesmo que ouviu esses barulhos retirou as mãos do piano que se silenciou.

O barulho parecia aproximar-se, alguém corria na sua direcção.

- Ana! – gritou Tomás.

- Tomás! És tu meu irmão! – respondeu Ana correndo para abraça-lo.

- Como estás? O que fazes aqui? As crianças? – perguntou o irmão.

- Ficaram com a Tarsa no esconderijo. Eu voltei para te ajudar e aju…onde está o Pedro? Onde está?

- O Pedro....

- O que lhe aconteceu?

- Partiu, para um mundo com mais paz, onde reina o amor, onde há mais luz. Nós perdemo-lo ontem.

Continua…

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