terça-feira, 31 de julho de 2012

A Borboleta Amarela – Parte 4

 

Desceram dos cavalos pegaram nas crianças ao colo e aproximaram-se da porta.

Tarsa tocou no pequeno sino junto à porta três vezes. Não obteve resposta. A luz que fugia pelas janelas diminuíra como se velas tivessem sido apagadas. Ela tocou de novo.

Quando já desistira de esperar e virava costas para voltar aos cavalos a porta abriu-se. Uma menina de cabelos loiros olhos azuis, que aparentava ter doze anos saiu da casa e disse:

- Entrem, entrem. A tempestade vai piorar e os meninos em breve poderão ficar muito doentes se não entrar já. Os cavalos não fugirão, garanto-vos. Tenho duas camas preparadas e roupas secas, para os meninos tenho aqui um remédio que se o tomarem já a febre que se avizinha não será tão forte. Calculo que não tenham fome, e por isso não preparei nada.

Ana ficou pasmada a olhar para a rapariga.

- Desculpa, estás sozinha em casa? – perguntou Ana. – Onde está a tua família?

- Família? Não, não tenho. Morreram todos, meus queridos pais e meu irmão, num incêndio aqui na floresta à quase trinta anos. Agora entrem se faz favor.

Todos entraram, trocaram as roupas e deitaram-se nas camas que jaziam preparadas. Ninguém falara nada desde que entraram na casa. Tarsa dormia com Mateus enquanto que Ana dormia com Lucas. A manhã chegou calma e com o sol a sorrir quando todos acordaram a menina estava já estacada junto da cama de Ana.

- Sei que dormiram bem. A manhã já vai longa e calculo que estão com muita fome. Preparei-vos um bom pequeno-almoço.

- Obrigado mas não era preciso, temos que partir. – disse Ana.

- Sim eu sei, e por isso assegurei-me que os cavalos estão em condições para grandes viagens. Arranjei-vos um outro que transporta mantimentos para a viagem.

- Mas como…

- Não faça perguntas que não necessitam de respostas. – disse a menina interrompendo Ana.

Todos se juntaram à mesa para comer com pouco apetite Ana ainda pensava no que tinha deixado para traz, o marido, o irmão e nem sequer imaginava o que era feito dos seus pais. As explosões e manifestações que se viviam na aldeia teriam de alguma maneira afectado a sua família? – interrogava-se ela.

- Senhora, temos que partir. – disse Tarsa a Ana.

- Sim, mas antes gostaria que me esclarecesses uma coisa. Acho tudo isto muito estranho, como é que a menina perdeu os pais há trinta anos e parece ter apenas onze ou doze anos? Como é que ela fala se soube-se que iríamos procurá-la, e parece saber tudo aquilo que vamos fazer. Ela é bruxa, ou algo do género?

- Não diga isso minha senhora… - Tarsa começou a falar enquanto que a menina estava a preparar um farnel para a viagem. – Tudo começou há cerca de cinco anos, os pais de Sanzal, que é o nome dela tinham ido à aldeia para comprar mantimentos para a família. Sanzal ficara sozinha em casa com o seu irmão mais velho, enquanto o irmão tratava de preparar o almoço Sanzal foi para o jardim preparar um pequeno ramo de flores. Ao pegar numa rosa, cortou um dos dedos nos espinhos da roseira, e foi ainda um corte bem profundo. Ela gritou pelo irmão para que a viesse socorrer, e ele chegou de imediato ao jardim. Sentou-a num banco de jardim junto à porta da casa e foi buscar um remédio e um pano molhado quando chegou a pedra do chão já se encontrava suja com algumas gotas de sangue. Ele tratou do ferimento da irmã e levou-a para dentro de casa. Cansada de estar dentro de casa, ela saiu outra vez para o jardim e foi passear pela floresta. Quando o irmão notou que ela tinha saído veio até ao jardim e chamou por ela, mas não obteve resposta e decidiu procurá-la na floresta. Quando os pais chegaram viram a porta aberta e o sangue de Sanzal no chão. A mãe desatou a gritar pelos filhos em desespero. O pai correu pela casa mas não encontrou ninguém. – Tarsa fez uma pausa.

- Mas o que aconteceu depois? – perguntou Ana inquieta

- Não se sabe ao certo, diz-se que o irmão de Sanzal caiu num buraco enquanto procurava a irmã, dizem que morreu o que é certo é que nunca mais foi visto, quanto aos pais de Sanzal suicidaram-se dias depois de não receberem noticias dos filhos. Já Sanzal voltou a casa uma semana depois e foi ela que encontrou os pais mortos no jardim. Ninguém sabe o que aconteceu à menina durante esse desaparecimento nem o que foi feito aos corpos dos pais dela, mas o que é certo é que ela tem poderes que adivinham o futuro. E disso você já tem provas.

- Sim, realmente tenho…mas, ela disse que a família morreu num incêndio.

- Doida varrida também é, pobre menina. Vive sozinha, tão nova mas a sua mente é de alguém até mais velho que nós mesmas. Penso que ela foi consumida por espíritos.

- Credo, que assustador. Mas porque ninguém cuidou dela? E como a conheces Tarsa?

- Ela tem forças incalculáveis, ninguém a subestima. Foi à precisamente poucos meses quando ouvi conversas do senhor seu pai sobre perigos nacionais, guerras e como sabia a história da menina decidi vir até aqui para prevenir o meu e o futuro da vossa família. Desde então tenho vindo várias vezes até aqui, penso até que sou a única pessoa a fazê-lo.

- É triste, até ontem pensava que a vida era um mar de rosas, sem tristezas, sem solidão, sem ódio, nunca imaginei que houvesse estes casos estranhos, sobrenaturais mas sobretudo tristes.

- Sim, é verdade. Cada pessoa vê a vida baseada naquilo que a rodeia. A senhora, sempre viveu com boas poses financeiras, nunca teve um emprego, vivia rodeada da família, nunca tomou outro rumo e ver novos horizontes…não me leve a mal mas é isto que penso.

- Sim Tarsa estás à vontade, e com razão. Nunca pensei que passaria o que estou agora a passar, nunca imaginei que a dor emocional fosse tão forte… - lamentava-se Ana.

A menina entrou e dirigiu-se a elas. Estendeu a mão direita ao bolso do casaco e retirou um pequeno frasco e estendeu a mão a Ana.

- Guarde num local bem seguro, vai precisar.

- Obrigado mas o que é isto? – perguntou Ana.

A voz da menina mudou e começou num tom grave e assustador a proclamar:

Empurradas pelos vento,

fugiram à morte

numa casa do mato,

procuram a sorte.

Num barco à deriva,

Andam elas a navegar.

Ofereço o elixir da vida,

Para o coração acalmar.

 

continua…

 

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