sexta-feira, 13 de julho de 2012

7. “O Roubo e a Fuga” de Nunca Te Direi Adeus – Cap.VII


VII – “ O Roubo e a Fuga”

A noite passou em claro para Leonor, embora não tivesse adormecido ficou a pensar no que deveria fazer. A manhã chegou e Leonor ainda não tinha uma solução para a sua vida. Restavam-lhe uns pequenos trocos e não davam sequer para um almoço. Poucos minutos depois ela lembrou-se que era capaz de receber ajuda de Maria Lucinda, uma velhota que vivia mesmo no centro da freguesia. Dirigiu-se a casa dela com cuidado para não ser vista e trepou à porta.

- Quem é? – respondeu uma voz muito aguda de dentro das paredes.
- Desculpe o incómodo, mas sou a Leonor a filha da Beatriz.
A senhora que parecia ter mais de oitenta anos, estava toda curvada numa bengala, com um xaile pela cabeça abriu a porta e fez sinal a Leonor para entrar.
Leonor sabia que podia contar com a ajuda dela, pois ela não saía de casa desde que o seu marido morrera à vinte anos, e alimentava-se apenas de pequenos alimentos que cresciam numa pequena horta nas traseiras da casa.
- Peço desculpa mais uma vez, mas acho que a senhora me pode ajudar.
- Leonor como estás crescida! Já não te via à muitos anos desde que os teus avós morreram e tu passas-te aqui na rua. Então como estás, à muito tempo que não tenho novidades tuas.
A senhora parecia não ter ouvido o pedido de ajuda de Leonor e preocupava-se apenas em saber o que ela tinha. Quando a senhora parou de falar Leonor disse:
- Eu vim aqui em nome da minha mãe.
- Ah a minha afilhada! Como está ela?
- Bem, mas ela queria lhe pedir um favor…
- Diz lá, faço tudo o que puder para ajudá-la.
- Preciso de dinheiro… - disse Leonor, com a voz a tremer.
- Dinheiro? Mas o que se passa?
- Não é nada de grave, apenas a minha mãe precisa de comprar uma arca nova e não tem dinheiro que chegue.
- Pobre Beatriz, e quanto quer ela?
- Quinhentos euros. – disse Leonor.
- Espera ai minha filha eu vou lá dentro buscar. A senhora afastou-se para ir ao quarto buscar o dinheiro e mais uma vez Leonor mentiu e iria roubar a senhora por ter vergonha de mostrar a cara aos pais e à freguesia.
- Aqui está. – disse a senhora aproximando-se de Leonor.
- Obrigado. Queria lhe pedir uma coisa, pode ser?
- Sim, diz lá.
- Não diga a ninguém que eu aqui estive, sabe depois andam ai boatos sobre a minha mãe. Compreende?
- Sim, não te preocupes também não saio desta casa à vinte anos.
Foi com um sorriso na cara que Leonor se despediu da senhora e agora que lhe restava pensar o que fazer.
Ela partiu no primeiro autocarro que ali passou e foi para o Porto.
Quando chegou ao Porto já era quase noite e instalou-se numa pequena pensão que ali tinha. Deitou-se na cama e começou a pensar em tudo o que tinha de fazer, pois não podia ali ficar mais nenhum dia. Foi então que se lembrou de alguém que era capaz de a poder ajudar, alguém a quem poder recorrer. Pegou de imediato no seu computador e ligou a internet a uma rede pública da pensão. Para seu desagrado Soraia não estava online e limitou-se a tentar outra solução. Visto que a sua única solução era a ajuda de Soraia esta investiu o dinheiro para ir até ao Gerês ter com ela.
A manhã chegou num abrir e fechar de olhos e quando já o cuco cantava as nove horas Leonor já estava no centro de camionagem pronta para partir para o Gerês. Quando saiu do Porto eram quase dez horas e foi só passado oito horas que ela chegou ao destino. Durante toda a viagem ela pensou em tudo o que lhe acontecera e como parecia estar a superar tudo. Teria já a sua mãe conhecimento do dinheiro que ela pediu a Maria Lucinda? Alguém a poderá ter visto vaguear pelas ruas em Mansores? Teria Carolina feito algo e alertados os seus pais por ela ter estado lá em Mansores? As dúvidas acompanharam Leonor durante toda a viagem mas nenhuma resposta parecia ter vindo ter com ela.
Mal chegou ao Gerês dirigiu-se a um pequeno bar para comer algo pois já não comia desde que saíra do Porto. Desta vez sobrara-lhe muito dinheiro, pois a viagem não era muito cara e ainda ela não tinha que gastar muito dinheiro com estalagem, pois sabia que Soraia a acolhia em sua casa de braços abertos no dia seguinte.
Decidiu então passar a noite numa pensão ali perto e logo de manhã iria ter com Soraia, e foi então que ela se deslocou até à estalagem e lá permaneceu até ao amanhecer.
Quando o sol chegou ao Gerês, Leonor levantou-se da cama e arrumou toda a sua bagagem, tomou o pequeno-almoço e dirigiu-se à casa de Soraia.
Ainda longe de chegar ao seu destino ela é surpreendida por um rapaz que aparece mesmo ao virar da esquina onde ela se encontrava. Filipe olhava agora Leonor nos olhos, o que causou um momento de grande tensão e ali ficaram imóveis por uns segundos. Esta decidiu continuar o seu percurso virando-lhe as costas quando ele se aproximava e continuou a caminhar até à casa da sua amiga.
Cada vez mais envergonhada, por uns segundos arrependeu-se de ter vindo para aquele local, mas rapidamente lembrou-se qual o verdadeiro motivo da sua fuga. Quando começou a avistar a casa onde morava a sua amiga desatou a correr e tocou à campainha. Nada. Ninguém falou, ninguém foi à porta. Ela sentou-se ali, encostada ao muro frio e húmido esperando por alguém, por uma resposta vindo de dentro da casa.
As doze horas faziam-se sentir na posição do sol e então Leonor foi até à padaria mais próxima onde comeu algo, mas voltou a correr para junto dos portões de casa da amiga. Passado umas horas um autocarro para ali mesmo naquela rua, e é então que Leonor avista um bando de miúdas juntamente com Soraia.
Quando Soraia a viu, a cena que se passara com Filipe à umas horas antes voltara a repetir-se. Quando ela chega perto de Leonor olha-a de cima a baixo e diz:
- Tu? Que fazes aqui? Os teus pais?
- Olá… eu… preciso da tua ajuda. Eu fugi de casa. Deixa-me entrar e conto-te tudo.
 
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