terça-feira, 25 de setembro de 2012

Caminho para a Felicidade – Parte 2

PARTE 1

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PARTE 2

Um problema. Eis a questão. Onde ele está?

I

Os dias passam. Por mais que a queira ajudar, percebo agora quão grande este problema é. Nunca vi algo com esta dimensão. Muito já pensei, mas até agora nada inferi. Só sei que cada caminho que escolho para a ajudar se transforma num beco. O tempo que demoro a voltar ao ponto inicial triplica, em proporção, a dimensão do seu problema.


  Ela não reage à felicidade, mas muito se esforça para poder reagir num futuro próximo. A última vez que estive com ela percebi que esta questão provoca algum embaraço na sua rotina. Possivelmente enfrenta situações desagradáveis ou até mesmo confusas para a descoberta do caminho para a felicidade.
Não me posso esquecer que hoje tenho de ir a casa do Gustavo. Por mais que me custe – pois o trabalho tem apertado nos últimos dias – faz-me bem passar um pouco de tempo com ele. Parece que com ele tudo fica mais simples. É como se a confusão que em mim paira desaparece-se por completo, e a questão “felicidade” deixasse de existir. Bem sei que ele muito se tem esforçado por tentar resolver o meu problema. De certeza que tem dado voltas e voltas para me tentar ajudar. Sem a sua ajuda, possivelmente a minha vida seria mais complicada e confusa.
  Faltar um único dia às sessões por nós combinadas é como desprezar o esforço que o Gustavo tem feito para me ajudar.
Hoje irei encontrar-me com Carla. Espero que a sessão de hoje traga alguns progressos. Se tal não acontecer, não compreendo qual o caminho que devo seguir.
  Saio de casa do Gustavo com a sensação que algo de errado a minha pessoa cometeu. A expressão facial que ele me apresentou quando me abriu a porta de sua casa foi diferente da que ele me apresentou quando me fechou a porta da mesma, sendo que a primeira mostrava confiança em si mesmo para me tentar ajudar, e a segunda mostrava desilusão por um erro por ele ou por mim cometido. Eu sei que tenho um problema. Já o percebi. Quer dizer, percebo mais pelas apreciações que diariamente tenho de ouvir. Já ouvi com cada coisa... Desde insultos a reprovações da minha personalidade... Poucos são os que percebem a minha situação. É verdade que também pouco justifico a minha situação, pois caso tivesse de justificar a todos, com certeza que ainda hoje estaria a tentar justificar. Nestas situações, o Gustavo aconselhou-me a ignorar e não falar seja o que for com alguém, a não ser com um amigo. O problema é que muitos amigos tenho, mas não entendo se realmente o são.
  Desde pequena que tenho muita dificuldade em relacionar-me com outras pessoas. A verdade é que não percebo o que é um amigo. Por vezes, tenho noção que uma determinada pessoa é minha amiga, mas depois essa noção é alterada. Devido a este comportamento, a única pessoa que até então sabe do meu problema é o Gustavo.

II

  A nossa casa é o nosso refúgio. É o local onde os nossos problemas são projectados na parede e no tecto mesmo quando a janela ainda escrita não tem nos seus vidros a solução do problema. Se todos os bibelôs e livros falassem, contariam com detalhe todos os momentos que a casa onde permanecem já viveu. Negar uma casa a um semelhante, é impedir o mesmo de construir um refúgio. Gustavo assim pensava. A sua casa é o seu refúgio e o seu mundo. Diz preferir o mundo existente naquela casa do que o mundo existente no Mundo.
- Não entendo aquela rapariga. A cada dia que passa sinto que todos os conhecimentos que possuo de nada servem. Já fiz de tudo para tentar perceber o que se passa com ela, mas não consigo. Foi por isso que te chamei.
- Eu estive a ler todos os teus apontamentos. Senti que te aplicas arduamente para tentar resolver o problema, mas sinceramente não compreendo que sintoma possa ser este. É estranho ela não reagir à felicidade. Não será o comportamento natural da sua pessoa?

- Não me parece. Ela tem tido muitos problemas por causa desta questão. Ela... É estranho... Não percebe o que é ser feliz. Só sabe que a felicidade existe por a palavra “felicidade” existir no dicionário. Fora isso, de certeza que ela nunca saberia. Vê bem que a última vez que ela esteve cá em casa contou-me que o presidente da empresa de Ilustração onde ela trabalha a convidou para o cargo de vice-presidente da empresa. Eu...   

- Deixa-me adivinhar. Perguntaste-lhe se estava feliz.
- Exactamente! Por e simplesmente respondeu que faz bem o seu trabalho e que deverá ter sido recompensada pelo presidente da empresa.
- Mas ela não estará a ser humilde?
- Não... Se falares com ela sobre esta questão, verás como eu tenho razão. Pergunta-lhe, por exemplo, se ela é feliz. Fica automaticamente bloqueada e diz não perceber o que é isso.
- É um pouco estranho.
  O calor de Verão faz com que certas casas à noite se tornem quentes. Assim estava o ambiente em casa de Gustavo. Na companhia do seu amigo Rodolfo, o ambiente que outrora quente era, quente não o será mais, pelo menos enquanto o tema de conversa for a Carla. Para Gustavo, esta pessoa possui um significado esplêndido para a sua pessoa. Em primeiro lugar, não desiste dos seus sonhos mesmo que algo de diferente em si exista. Em segundo, sente a dor que por vezes Carla deve sentir quando se sente só.
- Eu quero tentar ajudar-te. Se realmente é como dizes, possivelmente estamos perante um caso deveras interessante.
- Eu prefiro ir falando contigo. Ela não se sente muito à vontade com esta situação, pelo que introduzir mais um elemento nas nossa sessões não me parece muito propício.
- Se preferes assim, eu compreendo. Mas estarei aqui para o que precisares. Disso, não tenhas dúvidas.

III

  Eu quero mudar. A mudança tem de acontecer para que a minha pessoa melhor se sinta. Mas não sei como posso mudar. Como posso mudar algo que eu nem percebo a razão de existir?
Carla ligou-me para me encontrar com ela. Irei fazer-lhe uma proposta que espero que ela não recuse. Quero propor a Carla que tire dois meses de férias – caso lhe seja possível – para se isolar. Espero, com esta atitude, que ela sinta falta de tudo e todos que a rodeiam.
  Irá para um local onde com certeza terá de dar tudo por tudo. Uma quinta abandonada que pertence aos familiares de Rodolfo. Neste local, não terá rigorosamente nada. Terá de produzir os alimentos e fazer com que a energia eléctrica e a água cheguem até si.
  Assim, a necessidade de regressar aos tempos de outrora fará com que a sua pessoa perceba o que realmente é importante. Tenho esperanças que ela assim consiga inserir a felicidade nos seus comportamentos. 
  Não entendo a razão de o Gustavo querer que eu me isole. Ainda estou na dúvida se irei aceitar a sua proposta. Só espero ser igual a todos os outros que me questionam. Quero ver o mundo com felicidade, pois estou farta de assim não o ver. Se para os outros a felicidade é assim tão importante, qual a razão de não tentar incluí-la em mim? Vale a pena tentar.

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Lutar por nós é lutar pelo Mundo que nos rodeia. Desistir de nós é desistir do Mundo que nos rodeia e não aproveitar as excelentes capacidades que temos enquanto seres racionais.

 

continua…

Na próxima terça-feira não será publicado o capítulo 3. Sendo assim, o mesmo será publicado na semana seguinte, no dia 9 de Outubro.

 

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