I - “A Perda e o Consolo”
Era sexta-feira, três de Outubro de 2000 e o nevoeiro cobria
toda a freguesia de Mansores. Do longe ouviam-se os pássaros a cantar e os cães
a latir. A freguesia era maravilhosa, bela e deslumbrante. Lá no alto, mesmo no
centro havia uma grande praça que servia de passagem para uma enorme capela,
revestida de pedra, e tinha aparência de ser muito antiga. Do seu lado
esquerdo, existia um enorme e assustador cemitério, cheio de sepulturas antigas
e velhas. Quando o sino começou a bater as badaladas das dez horas da manhã,
não parou de tocar depois de bater as badaladas das horas. Alguém teria
morrido, eram os sinais fúnebres, mas pelo toque não foi apenas uma pessoa a abandonar
a freguesia.
Do longe da praça, avistavam-se três manchas vermelhas a
subir a estrada. Os três homens que vestiam capas vermelhas levavam nas suas
mãos uma cruz. Por detrás seguiam-se duas carrinhas que andavam a par uma com a
outra e a par. Ambas eram de vidro, como a montra de uma loja, e estavam
recheadas de flores, onde se via apenas uma grande caixa de madeira em cada
carrinha por baixo de todas essas flores. António Brás e a sua esposa Maria
Brás abandonaram tudo e todos e foram ao encontro de uma luz. As lágrimas das
pessoas que seguiam as carrinhas eram intensas, tal como a água que começava
agora a cair de entre o nevoeiro. O filho das vítimas, Afonso Brás estava na
primeira fila com a sua mulher Beatriz Pacheco e a sua filha Leonor Brás Pacheco.
Do canto do olho de Afonso não escorria uma lágrima, já a sua mulher e a sua
filha tinham mergulhado num mar de lágrimas. Leonor é uma rapariga de nove
anos, os seus cabelos são castanhos e grisalhos, tinha olhos azuis e tinha
cerca de um metro e cinquenta e cinco centímetros. A pessoa mais afectada no
meio de tudo isto foi Leonor, pois sentiu-se culpada pela morte doa avós. Na
primeira noite de Outubro, Leonor convidou toda a sua família para o seu
aniversário à excepção dos seus avós paternos que não tinham telefone, e então
ela teria de se deslocar a casa deles para os convidar. O maior defeito de
Leonor era a timidez, e foi por essa razão que se recusou a ir a casa dos avós,
pois era muito envergonhada e não queria ir sozinha.
- Já não tens idade para ir sozinha, não? – foram as
palavras do seu pai.
Então Leonor decidiu não ir e esperar pela manhã para os
convidar. Porém nessa mesma noite António e a sua mulher preparavam-se para ir
a casa de Leonor, pois já sabiam que ela era envergonhada e não iria lá ir
convida-los.
Quando iam já a 10 metros de casa, três indivíduos aparecem
do escuro e obrigam-nos a darem-lhes tudo o que têm de valor. Maria deu o seu
ouro e António o dinheiro que guardava na sua carteira. Quando este decidiu
atacar um dos ladrões e lhe tirou a máscara, este vê-se obrigado a disparar
sobre António e Maria para que não deixem pistas que os incriminassem.
Ao fim da cerimónia fúnebre todos se dirigiram para o
cemitério. Ao ver os caixões abandonar a fraca luz do dia, os joelhos de Leonor
assentavam no chão e os gritos de terror agora eram intensos.
-Porquê? Se eu não fosse estúpida nada disto vos teria
acontecido, perdoem-me por favor…
-Chega filha, não aguento mais ver-te a sofrer assim, vamos
embora não é bom estares aqui. Ao dirigir-se a casa, Leonor deixa-se cair no
chão da praça, como se estivesse desmaiada. Beatriz ainda a tenta levantar, mas
esta parecia decidida a ali ficar deitada. Toda a população que se situava ali
naquela zona ouviria toda a mágoa que Leonor transmitia através do seu choro e
dos seus berros que eram cada vez mais intensos. Uma vez que não conseguira
fazer nada Beatriz voltou para junto do seu marido e deixou-a lá deitada, uma
vez que não passavam carros naquela praça.
Quando o enterro acabou, Afonso e Beatriz foram a correr ter
com Leonor, mas esta já não se encontrava lá deitada, mas sim sentada num
pequeno banco situado do lado direito da capela.
-Vamos para casa Leonor já é tarde e estamos todos
encharcados. – ao dizer estas palavras Beatriz levanta Leonor e os três vão
para casa abrigados apenas por um guarda chuva que Afonso possuía. Quando
chegaram a casa, atravessaram um estreito corredor, todo ele era preenchido com
molduras que separavam umas portas das outras. Entraram na última porta, onde
existia uma pequena sala, toda ela era antiquada e possuía apenas um velho sofá
e uma televisão.
-Vamos Leonor anda mudar de roupa antes que constipes.
- Já vou mãe, mas posso ir dar um passeio? Já não está a
chover.
- Mas primeiro vai mudar de roupa.
Depois de mudar de roupa Leonor saiu de casa e encontrou o
Sr. José, o seu vizinho que com quem gostava muito de conversar.
Enquanto isso, a sua mãe estava agora na sala conversando
com Afonso, pois precisavam de umas férias para acalmar a mágoa. Decidiram ir
para o Gerês, pois tinham lá o seu amigo Paulo que lhes emprestara a casa, uma
vez que este já não lá vivia.
Quando Beatriz vem ao jardim encontra mesmo na berma da
estrada, Leonor a conversar com o Sr. José.
- Leonor, anda para casa filha está a começar a cair
relâmpagos. Ela voltou e parecia mais aliviada e tranquila. Afonso contou a
novidade a Leonor, e afirmou que iriam partir no próximo domingo.
No dia seguinte, Leonor decidiu ir convidar Carolina uma
jovem de 11 anos que vivia ao fundo do lugar, para ir com ela. O imprevisto
aconteceu e como sempre a mãe de Carolina não a deixou ir com Leonor.
- Não leves a mal Leonor, mas a minha mãe é sempre assim. –
Carolina estava triste mas conseguiu disfarçar a sua mágoa perante a amiga.
Chegou o dia de partirem. Antes de sair de casa Afonso
desfolhava as folhas do jornal, onde se falava apenas dos acontecimentos
datados nesse dia.
- Acho que está tudo pronto…- Beatriz fechou a mala do carro
e partiram.
A viagem foi longa, cansativa e triste, uma vez que o
nevoeiro decidiu mais uma vez soprar por entre as montanhas. Quando chegaram ao
local, todos se encantaram, uma vez que o nevoeiro já não predominava não
impedia a visibilidade sobre a paisagem. A casa de Paulo situava-se mesmo em
frente à enorme lagoa que ali existia, toda a casa era em pedra e parecia um
palácio francês.
- Vou buscar a chave, o Paulo disse que a deixava ali no
café, esperem aqui por mim.
Afonso foi buscar a chave, enquanto Leonor ficou com a sua
mãe a observar a beleza e a magia daquele local.
Uma semana depois, a família parecia viver os dias mais
felizes da sua vida. Leonor desde que chegara aquele local, que sentia-se
perseguida por uma rapariga que parecia ter cerca de 15 anos.
Na quarta-feira da segunda semana, Leonor ganhou coragem e
decidiu ir tem com a rapariga que os perseguia. Ao aproximar-se ela desatou a
correr e ficou fora do alcance de Leonor. No dia seguinte, quando Afonso foi
até ao café com a sua esposa
e a sua filha, pediu a Leonor que fosse ao balcão pedir dois
cafés. Ao aproximar-se do balcão notou, que numa mesa lá ao fundo da sala
estava sentada essa misteriosa rapariga. Depois de pedir os cafés, levou-os aos
pais e pediu-lhes para ali ficar um pouco, uma vez que também o café se situava
perto da lagoa.
- Porque me segues? – perguntou Leonor à rapariga depois de
os seus pais irem embora.
- Eu não te estava a seguir, e agora sai daqui que tenho
muito que fazer. – a rapariga de cabelos pretos e lisos, de olhos escuros
estava sentada a fazer algo no computador.
- Eu sou a Leonor. E tu quem és?
- Chamo-me Soraia, que queres de mim?
- Só estava a ser simpática…que estás a fazer? Posso ver?
Soraia encolheu os ombros, e Leonor sentou-se numa cadeira
ao seu lado.
- Tenho conhecido muitos rapazes pela internet, marco
encontros e quando chego ao local eles gozam-me por causa da minha aparência.
- Mas porque é que tens interesse em fazer amigos através de
um computador? – perguntou Leonor.
- Eu nunca fui boa a criar laços de amizade, por isso acho
isto muito interessante. Já agora…tens um perfil aqui nesta rede?
- Não, eu não tenho computador, a minha família não tem
grandes possibilidades económicas e também nunca experimentei nada dessas
coisas de conhecer amigos online.
- Eu já tenho este perfil desde 1998. O meu primeiro amigo
que conheci, apaixonei-me pelas suas palavras, foi ele que me fez passar a
maior humilhação que senti até hoje, mas é por ele que sinto um grande amor.
Com toda esta conversa, Leonor e Soraia ficaram amigas mas
não puderam desfrutar muito dessa amizade uma vez que os momentos felizes no
Gerês duraram por apenas só mais três dias. A família de Leonor partiu para a
sua terra e consigo levaram memórias muito felizes.
II - “Nove anos depois, de novo férias”
Estávamos no dia um de Agosto de 2009, os raios de sol
matinal entravam pelas janelas das casas, o ar quente entrava por debaixo das
portas e por todo o lado se ouviam os pássaros a cantar. Leonor estava agora
com um aspecto mais adulto, os dezasseis anos eram uma idade muito bonita, como
dizia a sua mãe. A sua família parecia agora ter uma maior margem financeira,
pois Leonor estava agora no seu próprio computador, que lhe fora oferecido no
seu dia de aniversário.
- Leonor importas-te de me vires ajudar com o almoço?
- Já vou mãe.
Porem, desde as férias que passou no Gerês, nunca mais
perdeu o contacto com a sua amiga que lá conhecera. O perfil online que Leonor
teria criado com a sua amiga, não parecia ser o mesmo, estava agora cheio de
novos amigos, também estes do outro canto do mundo. Depois de almoçar, voltou
para o seu computador para falar com os seus novos amigos.
- Pareces estar viciada nisso, não o largas desde que o
recebeste! Já me arrependi de o comprar… - as palavras da mãe fizeram com que
ela muda-se de passatempo por essa tarde. Ir ter com Carolina era uma boa
ideia, mas estavam chateadas, uma vez que Carolina foi trocada por Soraia,
quando ela avisou Leonor que os caminhos por onde a sua amiga do Gerês a estava
a levar eram maus.
- Leonor vai até ao cemitério com o teu pai levar uma vela
aos teus avós.
- Não me apetece ir mãe…está muito calor! – Leonor parecia
estar a ficar arrogante e agressiva desde que recebeu o seu computador. Será
este o agradecimento dela aos pais, ela não era assim quem é que lhe fez isto?
Onde andaria aquela menina calma, tímida e simpática que existia à uns anos?
No dia seguinte quando estava no computador, um novo convite
é lhe apresentado assim que inicia sessão, era um rapaz que vivia perto do Gerês,
o seu nome era Filipe e tinha cerca de vinte anos. Sem hesitar Leonor aceitou o
convite de amizade e semanas depois já estava apaixonada pelas suas palavras e
tinham programado um encontro quando ela fosse de férias para o Gerês no
primeiro fim-de-semana de Setembro. A última semana de Agosto, passou rápido e
num abrir e fechar de olhos já estava ela a caminho do Gerês. Desta vez,
optaram ir para uma estalagem, que se situava onde antes existira um café, onde
estava Soraia.
Depois de desfazerem as malas, Leonor pede á mãe que a deixe
ir ter com uma amiga.
- Mas quem é essa tua amiga?
- A Soraia, conhecia à seis anos e desde aí temos estado
sempre em contacto.
- Vai lá, mas anda rápido para casa.
-Ok mãe.
Como nunca correra, Leonor correu quatro quarteirões, até
chegar a ela.
- Soraia, aqui a trás, olha para aqui!
Ao virar costas, Soraia deparar-se com Leonor, como ela
crescera. O seu cabelo cor de carvão era agora longo, a sua cara era muito
comprida, e tinha uns olhos muitos carregados.
- Não imaginas as saudades que tenho, falar contigo
virtualmente não é a mesma coisa que estar agora aqui.
- Então Leonor tens novidades? Algum namoradinho novo?
- Não não…mas…
- Mas o quê? Diz lá…
- Conheci um rapaz que mora aqui perto, e combinei um
encontro com ele amanhã.
- Que bom! E em que queres que te ajude?
- Bom, se me acompanhasses, era muito bom.
- Não te preocupes, eu vou contigo.
- Ainda bem que vens. Agora tenho que ir ter com a minha mãe
que está à minha espera. Até amanhã….
- Adeus, até amanhã…
A noite passou rápida, Leonor nem dormiu, os nervos do
encontro, a primeira noite de férias parecia que a felicidade não cabia toda
numa só caixa. Quando no relógio anunciava oito horas, Leonor levantou-se,
tomou um duche, vestiu-se, tomou o pequeno-almoço e foi ter com Soraia.
Quando chegou a casa da mesma, esta já se encontrava à porta
à espera dela, e sem mais demorar foram ao lugar combinado ter com Filipe.
Um encontro marcado à entrada do parque natural do Gerês era
o sonho de Leonor. Ela tinha o corpo de uma adulta, mas a sua mente ainda se
comportava como uma criança de treze anos.
Ao aproximar-se do local, ambas estava muito stressadas e
curiosas, suspirando pelo tal rapaz que tinha apaixonado Leonor.
Os seus suspiros, eram como o bater dos segundos num
relógio, estavam ali á cinco minutos, mas era como se lá estivessem à cinco
horas.
- Estou tão nervosa amiga…achas que estou bem? O cabelo,
cara, maquilhagem? Está tudo bem?
- Sim, não stress porque ainda te dá uma coisinha má.
- Já agora queres que eu saia daqui? Se quiseres eu saio não
há problema.
- Claro que não, se eu não te quisesse aqui não te chamava,
não achas?
Ali continuaram mais dez minutos.
Quando ambas já pensavam em desistir do encontro, sente-se
uns barulhos, uns movimentos vindos de traz de umas árvores que ali estavam. Do
nada, aparece um rapaz, os seus olhos eram azuis como o céu, o seu cabelo era
curto e preto.
Ao deparar-se com o que via Leonor nunca imaginara que o que
via no computador pode-se ser tal e qual ao que via agora. Dos seus lábios
soltaram-se um belo sorriso, como nunca tivera acontecido.
Filipe, o rapaz que estava focado nos olhos de Leonor
aproxima-se e estende o seu braço direito.
-Filipe. E tu deves ser a Leonor presumo eu.
-Sim, sim sou eu. – a voz de Leonor gaguejava, os seus olhos
permaneciam com a imagem do rapaz e os seus lábios estavam cada vez mais
reluzentes.
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Brevemente o capitulo III - Encontro e Reencontro
Muito Bom! Quando sai os próximos?
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